quinta-feira, 29 de junho de 2017

Viagem




Numa tarde 
d'um dezembro distante
na velha escada de ferro  
que desce do Jardim da Luz
para a plataforma dos trens
destinado aos suburbios
da pauliceia fria e desvairada 
nossos olhares cruzaram-se
num oi prá cá,um outro prá lá
e já estavamos conversando
nos reconhecendo... 
num embarque apressado 
nos trilhos paralelos do tempo
d'uma viagem sem fim
de paisagens doces
e paragens amargas
em estações distantes
com avisos,sinais,apitos...
num abre fecha de portas
no entra e sai dos viajantes
ansiosos por chegar!














domingo, 11 de junho de 2017

Fraternidade dos Irmaozinhos de Jesus - Memoria








Fraternidade dos Irmãozinhos de Jesus - Memoria


Corriam os anos sessenta do século passado,o ABC Paulista industrialisava-se rapidamente e por necessidade de mão de obra atraia levas de migrantes vindos de todo Brasil a procura de trabalho,a industria automobilistica era o carro chefe de todo este processo.

A Diocese de Santo Andre,criada em 1954,que abrangia as sete cidades,Santo Andre,São Bernartdo,São Caetano,Maua,Diadema,Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra tinha seu primeiro bispo Dom Jorge Marcos de Oliveira,oriundo do Rio de Janeiro,que passaria a ser conhecido como o Bispo dos Operarios, tamanho o seu engajamento nas lutas sociais e solidariedade em prol da classe trabalhadora da região.

Vila Palmares,um bairro popular, encravado nas divisas de Santo Andre,São Bernardo e São Caetano era a sintese destas cidades operarias, foi o local escolhido pelo bispo,para que se instalasse a primeira Fraternidade dos Irmãozinhos de Jesus, em casa simples,adquirida pela diocese,na Rua Indianopolis 86, onde hoje construiu-se sobre os alicerces da antiga residencia uma Capela de didicada a São João Batista.

Os primeiros religiosos a integrarem a Fraternidade foram o brasileiro Francisco Pacheco que na epoca era carpinteiro e o frances Roland, que era metalurgico e trabalhava em uma fabrica nas cercanias,posteriormente vieram outros irmãos a saber Guiy Maurice Norel,Marc Saint Marie,Serafim Lana Moura,e Remi todos operarios.

A casa onde instalou-se a fraternidade,era simples,dividida em dois comodos na frente e outros dois nos fundos com um sanitario comum...sendo que o comodo da frente era utilazado como uma capela rústica e ao mesmo tempo aconchegante.A vizinhança era formada por casas de familias muito proximas umas das outras...

Os irmãos relacionavam-se com os vizinhos de maneira acolhedora e muito amiga, e os adultos e as crianças sempre estavam por ali conversando.Relacionavam-se tambem com pessoal da comunidade paroquial próxima e eram vistos com frequencia nas missas da Capela Nossa Senhora das Graças do bairro vizinho, onde os moradores da Vila Palmares tambem frequentavam, e foi onde meu pai João Padovani e minha mãe Helena os conheceram,e os irmãos tornaram-se muito amigos e passaram a frequentar a casa de meus pais. Com o passar dos anos a Vila Palmares cresceu rapidamente então foi criada uma nova paroquia pelo bispo diocesano, Dom Jorge Marcos. Outro foco de relacionamento dos irmãos eram os companheiros de trabalho e e seus amigos, que passaram a ser frequentes na Fraternidade, além de inúmeros visitantes oriundos de várias partes do pais e até do exterior, que queriam conhecer de perto essa nova modalidade de vida religiosa junto ao povo pobre e simples!

Fato curioso, foi que o Irmão Francisco resolveu mudar de profissão e ser pedreiro, foi aprender com meu tio Antonio o oficio, trabalhando como servente de obras e sendo seu parceiro por longo tempo,ate que finalmente dominou a arte.

Houve um movimento no bairro para a fundação da Cooperativa Popular de Consumo de Vila Palmares, onde o Irmão Francisco teve participação muito ativa e junto com  o grupo liderado por Salvador Vegas, um anião, oriundo do Partido Comunista, Leonas Benvindas oriundo da Acão Catolica, e mais Waldomiro,Arlindo,Marinice,Chiquinho,entre outros, inclusive eu que fui o primeiro secretário, escolhido porque, segundo eles minha letra era bonita. Reunido o  pequeno grupo, procuramos através do Irmão Francisco,e tivemos o apoio de um pastor Metodista de São Paulo, Prof. Teodoro Maurer, autor do livro COOPERATIVISMO, e da Federação das Cooperativas Populares de SP. Fizemos um grupo de estudo sobre o cooperativismo e de como organizar uma cooperativa. Num segundo momento fomos a luta para conseguirmos um número mínimo de cooperados para que fosse viável o projeto,assim chegamos a cerca 150 sócios que passaram a contribuir mensalmente com uma quantia para a formação do capital inicial. Na sequencia alugamos um salão na rua Mamede Rocha e abastecidos pela citada Federação, com grande entusiasmo inauguramos o nosso primeiro armazém que funcionou durante três anos neste local. No bairro alguns comerciantes reagiram rapidamente e começaram a concorrência com faixas que anunciavam aqui “preços de cooperativa”. Mas havia um inimigo oculto a nos combater “as famosas cadernetas de vendas a fiado” que faziam reféns a maioria das famílias de Vila Palmares.Foi uma experiência bastante educativa e proveitosa para nós que participamos deste projeto popular, porem depois de alguns anos capitulamos!

Corriam os anos de chumbo, pois estávamos em plena Ditadura Militar e Vila Palmares era um polo de resistência dos trabalhadores, sendo que a Igreja de Nossa Senhora das Dores, tinha como pároco o Pe. Rubens Chansseraux engajado na luta do povo e que foi preso várias vezes, tambem bastante ligado a Fraternidade e junto com os irmãozinhos davam apoio moral e financeiro as famílias dos vários trabalhadores engajados nas lutas populares e que encontravam-se presos ou exilados.

Perto da Fraternidade tinha uma casa de oração evangelica, onde Francisco ia algumas vezes e rezava com eles, e ao final o pastor sempre perguntava a ele: Se tinha aceito Jesus?  Ao que ele respodia: Sim aceitei e já fazia tempo!

Os irmãos não tinham atividades pastorais, mas somente presença e solidariedade com a parcela da igreja mais pobre!

Lá pelo ano de 1976 o Irmão Francisco mudou-se para o Nordeste, precisamente para a cidade de João Pessoa, na Paraiba, sendo acolhido por Dom Jose Maria Pires, Arcebispo da Paraiba, o Dom Pelé, que criou a Fraternidade na periferia no bairro do Alto do Céu, onde por uma temporada minha mãe Helena Padovani foi coabitar com os irmãos participando de uma nova experiência de vida religiosa.


Tomas Jose Padovani